domingo, 18 de dezembro de 2011

Publicação de Pesquisa


“Órfãos por imposição do Estado” - Hanseníase e as marcas na alma

Texto extraído do Jornal Folha de Betim

Universitários da Puc-Betim recebem menção honrosa ao contar a história dos órfãos da hanseníase.

Eles são cerca de 40 mil brasileiros, têm por volta de 50 anos, estão espalhados pelo País e unidos pela mesma dor: são filhos de pessoas que tiveram hanseníase - doença que antigamente recebia o nome de lepra - e foram privados do convívio com os pais ao nascimento.  
Esses “órfãos de pais vivos” eram enviados para educandários ou preventórios em cestas chamadas “ninhada de leprosos”. Lá cresceram e a maioria nunca conheceu a família biológica. Sabedores dessa história, o estudante de Direito, Thiago Pereira da Silva Flores, e Pautília Paula de Oliveira Campos, de Psicologia, ambos da Puc, unidade Betim, propuseram-se a fazer uma pesquisa multidisciplinar sobre os filhos dos hansenianos, intitulado ÓRFÃOS POR IMPOSIÇÃO DO ESTADO.
O projeto foi apresentado dentro da Puc Minas em 2010 e aprovado no PROBIC (PROGRAMA DE BOLSAS E INICIAÇÃO CIENTIFICA) que vem sendo realizado durante todo o ano de 2011. 
De acordo com Thiago, “tudo começou em Outubro, durante o 19º Seminário de Iniciação Científica da PUC MINAS, que reúne todos os projetos de Pesquisa das unidades da PUC MINAS. Dentro do seminário, fomos premiados como um dos destaques do projeto de pesquisa de 2011. Recebemos uma MENÇÃO HONROSA, o que possibilitou que o trabalho seja publicado na íntegra, no ano de 2012, no livro de destaques da Puc 2011”.
Agora, ele vai ser apresentado no 16º Congresso Nacional de Psicologia Social (ABRAPSO), em Recife, e, no dia 25 de Novembro, no 12º Congresso Brasileiro de Hansenologia, em Maceió.
A realização da pesquisa
O objetivo do projeto é levantar dados relacionados à política de segregação que se estendia aos filhos dos ex-pacientes portadores de hanseníase, analisando se a prática de isolamento compulsório dos pais atingiu ou trouxe algum estigma aos seus filhos, sem que esses fossem portadores da doença. Ele identificou de que forma o envio das crianças para os preventórios, creches, pupileiras e educandários contribuiu para a situação em que vivem nos dias atuais.
Para chegar aos órfãos, foi realizado um levantamento a partir de entrevistas com os filhos dos ex-pacientes de hanseníase. As entrevistas foram obtidas nas colônias localizadas nas cidades de Betim, Ubá, Três Corações e Bambuí.
A pesquisa revelou que os filhos separados dos pais, possuem marcas oriundas do tempo de segregação como cicatrizes físicas, além dos sentimentos de vergonha, tristeza, medo, incapacidade, angústia, constrangimento e culpa, se dizem vitimas do preconceito como é o caso deste entrevistado que relata: “....Pedi papel higiênico para o porteiro, ele me negou. Na minha inocência de criança, me limpei com um caco de vidro. Após 30 anos, todas as vezes que faço força, o corte fica em carne viva...”
Os dados levantados até agora, demonstram que estes filhos, separados dos pais pela política de segregação da Hanseníase, vítimas do “holocausto” brasileiro, que baniu da sociedade milhares de pessoas, deixou mais seqüelas do que a dor da própria doença. “...Eu fui muito discriminado na instituição. Durante o dia misturavam os meninos com idades diferentes e aí que aconteciam as coisas. Era espancamento e estupro, como aconteceu comigo...”

Parabéns Thiago e Pautília!!!!!!!!


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